20120619

Perspectivas

Há 4 meses e três dias cheguei a Moçambique. Tal como centenas de portugueses que chegam aqui diariamente, vinha para trabalhar. Mas não para trabalhar numa perspectiva economicista apenas, pensava eu, era que eu queria estar com as pessoas daqui, queria fazer voluntariado, queria integrar-me numa comunidade. E, pensava eu, seria assim possível conciliar o sonho de África (os lugares, as pessoas, as experiências), a luta por um mundo melhor e o que se chama de "vida normal".

A minha experiência de Hemisfério Sul até ao momento tinha sido sempre em contexto de projectos de cooperação para o desenvolvimento. Sempre "imiscuida" na vida das comunidades, no trabalhar em conjunto com as pessoas. E, pensava eu, que isso seria uma constante na vida em África.

Há 4 meses e três dias cheguei a Moçambique. Convivo diariamente, no trabalho, com portugueses e moçambicanos. Tenho boa relação com todos. Nos poucos momentos livres, ao fim-de-semana, junta-se a "família" - 12 portugueses de Vagos e arredores com os quais trabalho mais directamente. Vou à missa de manhã, por vezes canso-me das várias horas que ela demora, mas entretenho-me a tentar cantar os cânticos em dialecto ou a tentar perceber o seu significado. Observo as pessoas, a comunidade, tento imaginar as suas vidas.

Primeiro observar, escutar, estar, depois participar. Mas como é difícil participar. Não consigo entender se é pela minha perspectiva sobre a vida aqui ser diferente de outras vezes. Se é pela perspectiva que as pessoas têm sobre mim também ser diferente das outras vezes. Se, apesar de tentar que assim não seja, a postura ser diferente. A verdade é que a integração em outros meios, que não o laboral, é um desafio.

Por isso, costumo dizer que muitas vezes não me apercebo que estou noutro país.

Se alguém ler isto, não pense que é um post demasiado pessimista. Nada disso, claro que há coisas boas! Mas...

Depende da perspectiva!