Milhões de pessoas no mundo repetem-se, dia após dia, umas no escritório, outras em salas de aula, outras em linhas de produção fabris, outras em campos de refugiados, outras em prisões de alta segurança, outras no centro de conflitos armados...
Mais uma rotina: abrir o google news. Deparo-me hoje com os recém-instalados misseis russos, a merecida ovação Obama, o gritante conflito no Congo... Que mundo é este?!, penso... mas lá toca o telefone, fecho a página do browser e passo à rotina seguinte.
É fácil mudar de página na net ou mesmo desligar a TV, mas e quem tem outras rotinas. E quem não pode mudar para um site mais agradável ou para uma estação de rádio onde passe música agradável? E quem não pode saír à noite com um amigo, só para esquecer as mágoas. E quem não tem opção?!
A minha reflexão, que começou por ser sobre as rotinas e a indiferença das pessoas, segue já um caminho subtil que me leva a fazer o paralelo com as outras rotinas de outras pessoas, noutros contextos e noutras geografias...
A rotina... na Republica [democrática] do Congo... tantas pessoas repetem tarefa após tarefa. Procurar um lugar seguro, avançar para matar, rezar porque traz conforto para a alma, negociar a vida que se esvai...
Até as crianças, que com a sua irreverencia e rebeldia natural fogem a qualquer tipo de regras e monotonias impostas. Até as crianças, neste caso falo das congolesas, repetem diariamente as suas tarefas: caminhar num mundo turvado pelo efeito constante de drogas, vestir as suas novas fardas, pegar em armas maiores que elas e disparar... disparar a matar [porque é um jogo], acreditar que um dia vão voltar às suas aldeias, que a família vai estar orgulhosa delas porque voltaram da guerra... mas mataram pessoas... perderam-se no mato e não vão voltar mais...
Futuros arrancados aos colos das mães. Futuros arrancados às brincadeiras na rua. Futuros sem amanhã.
Convenção sobre os Direitos da Criança, Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo ao envolvimento de crianças em conflitos armados...
Calcula-se que possa haver 30.000 crianças associadas a forças ou grupos armados como combatentes, escravos sexuais e ajudantes.*
E vou terminar assim, abruptamente, a minha reflexão algo desconexa de hoje, deixando apenas um desafio a quem a ler: experimente não mudar já de assunto - porque é mais fácil - e reflicta também.
* Fonte: Unicef
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